‘Compre local está cada vez mais forte nos EUA’, diz cervejeira da Stone Brewing

A história nos mostra que alemães e americanos divergem em muita coisa. Parece que cerveja é uma delas.

Em entrevista ao Racha uma Breja a cervejeira da californiana Stone Brewing, Laura Ulrich, me explicou por que o bar megalomaníaco que construíram nos arredores de Berlim não vingou, qual a tendência do mercado para 2020 e em que pé está a organização que preside, a Pink Boots Society (PBS).

Quando você começou na cerveja, Laura, tudo isso aqui era mato. Me conta como foi a sua evolução nesse mercado, por favor.

Comecei a trabalhar com cerveja em 2002, quando ainda morava em Fort Collins, no Colorado. Eu trabalhava como bartender e vi na Odell Brewing uma oportunidade de emprego que eu achei que seria bacana. Mas não tinha essa intenção de fazer carreira no mundo cervejeiro, propriamente. Quando fui pra Odell, vi a vaga mais como mais um emprego que ia pagar as contas, um ofício.

E quando isso mudou?

Quando eu vim para a Stone, em 2004. Eu queria muito mudar de cidade e a oferta de emprego me permitiria ir para a Califórnia. À época eu ainda trabalhava no setor de envase. Em 2006 me foi ofertado um emprego como cervejeira. Como a Stone é uma cervejaria grande, comecei a ir conhecendo mais pessoas. E percebendo que, de fato, não havia tantas mulheres nesse mercado. E aí, em 2007, eu conheci a Teri [Fahrendorft, a outra fundadora do Pink Boots Society]. 

Foi aí que vocês fundaram a Pink Boots Society?

Pois é. A Teri estava fazendo uma road trip pelos Estados Unidos e notou que havia pouquíssimas mulheres na indústria. Nessa época ainda não havia redes sociais, de modo que não estávamos conectadas como hoje. Foi quando fizemos uma lista para tentar projetar quantas mulheres éramos no mercado. E então pensamos: e se juntássemos todas elas em um grupo e começássemos uma organização? Hoje temos 2.500 membros na PBS e, desde 2013, oferecemos bolsas de estudos para mulheres do mundo todo que querem ingressar no meio cervejeiro. Já crescemos muito: concedemos 6 bolsas em 2013 e, neste ano, foram 48.

Mas você continua na Stone?

Sim, eu nunca saí da Stone. O PBS é meu projeto paralelo.

E o que mudou de lá pra cá no mercado? Você vê alguma tendência para 2020?

Eu percebo que o movimento do “compre local” está cada vez mais forte nos Estados Unidos. O que faz sentido do ponto de vista do cervejeiro, porque significa que você não precisa gastar com distribuição e pode manter uma logística mais simples na sua cervejaria. Do ponto de vista do consumidor também ajuda -é sempre uma boa ter opções mais perto de casa.

Você acha que esse foi um dos motivos para a Stone não ter dado certo em Berlim? [esse ano a cervejaria fechou um bar enorme que havia 3 anos de vida na capital alemã]

Acho que passamos por uma espécie de conflito cultural e de consumo na Alemanha. Vou dar um exemplo: os alemães não tomam cerveja em lata. Eles a veem como uma cerveja de qualidade inferior -apesar de nós termos ótimas cervejas em lata. Além disso, as gerações mais antigas não estão acostumadas a tomar os tipos de cervejas que fazemos. Os mais jovens gostam, mas ao mesmo tempo não têm poder de compra. Outro fator era a distância: por se tratar de um terreno grande, o bar ficava um pouco afastado da cidade, o que pode ter prejudicado a frequência.

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O CEO Greg Koch anuncia a abertura da Stone Brewing em Berlim (Foto: Reprodução)

Você acha que essa diferença do consumo tem a ver com a lei da pureza, e com o fato deles serem mais ‘ortodoxos’ com relação à cerveja?

Pode ser. De fato, eles estão mais acostumados com cervejas tradicionais, o que pode ser o motivo pelo qual as gerações mais antigas não consomem as artesanais.