Mulheres se organizam em grupos para fomentar presença feminina no universo cervejeiro
Desde que iniciei o Racha uma Breja tenho procurado conhecer mulheres que trabalham com cerveja artesanal.
Ao longo do trajeto, visitei 6 países diferentes na Europa e, agora, aportei nos Estados Unidos. Testemunhei festivais e descobri tendências interessantes. Notei que cada cultura tem uma relação específica com a cerveja, seja através de uma abordagem mais tradicional, seja por uma produção mais moderna.
Sobre o relato feminino, descobri que a presença de mulheres nesse mercado de trabalho aumenta todo dia, mas não sem percalços e olhares (reprovadores) machistas.
Apesar do ofício ser originalmente uma atividade feita por mulheres, que conduziam a produção da cerveja assim como a do pão (então parte de suas tarefas domésticas), o trabalho foi sequestrado das suas produtoras originais, por volta do século 15, depois que governos descobriram que poderiam arrecadar impostos com isso.
O que costumava ser uma parte da renda das viúvas, que vendiam cerveja para pagar por sua subsistência, virou proibição. Reza a lenda, ainda, que os chapéus pontudos, usados por elas como uma estratégia de marketing para se destacarem na multidão enquanto vendiam o produto na rua, foram associados à bruxaria.
Os séculos que vieram em seguida e a revolução industrial também não ajudaram. Foi só nos anos 1960 que as mulheres retornaram à produção cervejeira, em grande parte por causa do reconhecimento de sua força de trabalho e por causa do aquecimento desse mercado nos Estados Unidos.
Ainda assim, a presença feminina incomoda. “Tenho a impressão de que as cervejarias pagam ainda menos para ex-patriadas não europeias”, me disse Linda Skogholt, representante da marca dinamarquesa To Øl. A xenofobia é um plus.
A reação das mulheres, entretanto, está cada vez mais produtiva. Em diversos países pelos quais eu passei, grupos estão sendo formados para fortalecer as cervejeiras e outras profissionais que já estão no mercado. E para chamar novas trabalhadoras e entusiastas, também.
Em Londres, o Crafty Beer Girls se encontra toda segunda quarta-feira do mês para discutir o mercado e trivialidades sobre a cerveja artesanal.
Em Nova York, o grupo NYC Women in Beer usa suas redes para divulgar eventos, trabalhos e atividades voltadas para mulheres no universo cervejeiro. Quatro vezes ao ano se encontram para fazer o networking pessoalmente.
Na Dinamarca, um grupo está organizando o GLOW – Gangsta Ladies of Wort, um evento em que as mulheres que trabalham no meio artesanal servirão suas cervejas e se colocarão à disposição para tirar dúvidas sobre o mercado e a produção ao público. Se estiver por essas bandas, confira: será em Copenhagen, no dia 7/11.
No Brasil, temos algumas iniciativas tímidas voltadas para as mulheres. Em geral acontecem no mês de março, e se dedicam ao ensino da brassagem. Acompanhando os bastidores, entretanto, sinto que estamos caminhando para a construção de algo mais sólido. O público ainda irá ouvir falar sobre.