Cerveja com pouco álcool é tendência de mercado nos EUA
Quem diria que a próxima tendência do mercado cervejeiro americano seria cerveja …sem álcool? Ou com pouquíssimo álcool. “Parece mentira, mas acho que essa veio para ficar”, me explicou Ann Reilly, diretora da associação de cervejarias New York City Brewers Guild.
Quando questionei o motivo da “moda”, Ann me respondeu que as pessoas estão mais preocupadas com a saúde e que querem controlar o consumo de álcool em geral.
Além disso, a sociedade americana é muito “carrocêntrica”, de modo que a indústria tem focado nos consumidores que bebem, mas ainda assim precisam dirigir. “É um jeito também de ser mais inclusivo e tentar atingir todos os públicos”, concluiu.
No Brasil tivemos um lançamento semelhante, há pouco tempo atrás, da Cervejaria Dádiva, a Dádiva sem álcool.
É uma proposta interessante para os abstêmios ou para pessoas que estão tentando parar de beber (que, até pouco tempo atrás, só contavam com opções péssimas no mercado, também conhecidas como “a última punição do bêbado”, segundo meu pai).
O movimento é curioso para quem acompanha o mercado. Os americanos, até onde conhecemos, são os reis da cervejas extremas, seja na quantidade de álcool ou em amargor.
“Mas talvez Nova York não seja uma referência para o resto do país. Nós vivemos em uma espécie de bolha”, disse Ann, quando questionei se o movimento era nacional.
“Acho que esse é inclusive o motivo da cerveja artesanal estar indo tão bem aqui. Nova-iorquinos são aficionados por novidades, principalmente no campo da gastronomia”, me explicou. “Para você ter ideia, vamos contar com 500 cervejarias artesanais no estado até o fim do ano”, contou. Para fins de comparação, o Brasil inteiro tem aproximadamente 1.000.
“E as pessoas pagam?”, perguntei.
“Não nos importamos em pagar um pouco mais por coisas que consideramos boas”, emendou.
Ainda assim, algumas marcas e bares se preocupam com acessibilidade. Notei muitos lugares com happy hour a valores bem baixos, com promoções do tipo duas cervejas artesanais por US$ 6 (R$ 24).
Falando em acessibilidade, o mercado também está reagindo positivamente à inclusão de mulheres no meio cervejeiro. “É preciso reiterar que estamos falando de Nova York, uma cidade progressista que não representa o país inteiro. Eu já ouvi histórias horríveis. Mas aqui as mulheres são tratadas com respeito”, disse.
Vice-presidente do Pink Boot Society daqui, Ann também organiza o NYC Women in Beer, uma reunião semanal que procura fomentar encontros entre mulheres do meio artesanal. Como em Londres, o encontro gera networking entre quem trabalha ou quer trabalhar na área.
“Aqui as mulheres representam uma grande parcela do mercado de trabalho e de consumidoras de cerveja artesanal. Não dá mais para sermos sexistas. As marcas sabem disso. E elas querem vender, afinal de contas”, resumiu Ann, talvez explicando muito mais sobre a sociedade americana do que ela pretendia.