Espaço em Berlim promove ‘cervejaria de contêiner’ e outras iniciativas independentes
Depois de uma semana conhecendo lugares que parecem cenário de filme indie dos anos 1980, estranhei quando cheguei na minha entrevista com a cervejeira Thea Kupfer no Holzmarkt, em Berlim.
O endereço que ela me mandou era no meio de uma avenida larga, sem comércio por perto, logo abaixo de um viaduto por onde passa o S-Bahn, o trem de superfície da cidade. Parecia inóspito para uma cervejaria. Mas o mapa não mente, dizem, e fui entrando em um estacionamento com várias vans estacionadas. O mau tempo não ajudou a glamourizar a situação.
Eu não estava exatamente no lugar errado, mas sim nos fundos do que deve ser o ambiente mais alternativo que já estive na vida. Mais do que um espaço, o Holzmarkt é um projeto, um ponto de encontro, um local aberto com várias atrações: um café, uma padaria, uma balada, pequenos lofts e um bar com cervejas artesanais produzidas in loco em um tipo de “microcervejaria de contêiner”, a Holzmarkt Brauerei.
A cervejaria, temporária, integrou o projeto durante um ano, fornecendo algumas das torneiras mais interessantes do bar. Este foi o último mês deles no local. Na semana em que estive lá, consegui experimentar algumas cervejas produzidas no contêiner: uma Pilsen bem tradicional, uma Pale Ale, uma Amber Ale e uma Berliner Weisse com limão -minha preferida.
“Não acho que exista uma resistência da população em tomar cervejas diferentes só por causa da Lei da Pureza”, me respondeu Thea, quando perguntei se ela achava que a legislação influenciava na cultura e, consequentemente, no consumo das artesanais.
“Acho que falta comunicação. Essa cerveja que fazemos é mais cara e o consumidor não quer pagar por algo que ele sequer conhece. E não é necessariamente por causa da qualidade. Isso, aliás, é um argumento que precisa ser desconstruído. Aqui na Alemanha nem toda cerveja artesanal é melhor do que as produzidas em maior escala. Mas precisamos explicar para a população que é um bem feito em pouca quantidade, por um produtor local que não consegue rentabilizar e distribuir o seu produto como a grande indústria”, concluiu.
“Em Berlim, no entanto, vivemos em uma bolha. Tanto para questões de gênero como para o consumo de novidades. O pessoal entende o conceito e está muito mais familiarizado com esse tipo de cerveja do que no resto da Alemanha. Aqui em Holzmarkt mais ainda”, explicou, dado que o lugar é uma espécie de epicentro volátil de arte e cultura.
Criado no início dos anos 2000, o espaço nasceu como um local de resistência à especulação imobiliária do rio Spree, um fenômeno que estava desenfreado nos anos que sucederam a Queda do Muro, em 1989. Desde que nasceu, o ambiente abriga projetos temporários e com poucos anos de vida. Praticamente uma aceleradora de iniciativas hipster.
“É interessante porque atrai muita gente. Você precisa ver isso aqui no verão. Não tem onde sentar. Acho que o mercado e a administração pública deveriam entender que esse lugar fomenta a região, atrai turistas, além de ser uma iniciativa bacana para quem está começando um projeto ou um empreendimento. É um ponto de partida”, resumiu Thea.
Para saber mais sobre a iniciativa, acesse: https://www.holzmarkt.com/ueber-den-holzmarkt