Festival em Bruxelas reúne cervejarias de dez países diferentes

Sour, Fruit Beer, Gueuze, algumas Stouts, poucas IPAs e muitas, mas muitas Lambics. Se a terceira edição do BXL Beer Fest ditasse as próximas tendências do universo cervejeiro, eu diria que o que nos espera é um mundo de cervejas ácidas.

No último sábado (24) e domingo (25) o evento, que acontece em Bruxelas, recebeu aproximadamente 3.000 pessoas e mais de 300 opções de cervejas feitas pelos 60 expositores ali presentes. Além dos belgas, cervejeiros de países como Itália, Canadá, Polônia, Estados Unidos, Inglaterra, França, Luxemburgo, Estônia, Áustria e Dinamarca estiveram na feira.

O clima era bem família. Crianças correndo para lá e para cá, espreguiçadeiras e food-trucks dominavam a área externa. Beer geeks de várias idades competiam para ver quem tinha mais avaliações de cervejas no aplicativo Untappd. Senhoras e senhores entornavam (discretamente) seus copinhos de 150 ml. Só faltou uma música e a mesa de ping-pong.

Dentre as torneiras, era de se esperar que as ácidas dominassem o evento. Afinal, há um certo orgulho bairrista, aqui, em produzir uma cerveja tão elegante como uma Lambic. Ainda assim achei surpreendente a ausência de IPAs, e um pouco engraçada a competição entre as Stouts. 

Era uma mais diferentona que a outra: tinha Stout com café da Guatemala. Stout com café da Indonésia. Outra, chamada de Havana, foi feita com infusão de charuto e rum. A que eu mais gostei levava infusão de café via método cold brew na receita, da cervejaria Bare Brewing, de Luxemburgo. E uma das mais comentadas foi a Onyx, Imperial Stout envelhecida em barril de amburana, da Atrium Brasserie. 

Fundada pela brasileira Paula Yunes e seu companheiro, Valéry De Breucker, a Atrium Brasserie esteve pela primeira vez no BXL Beer Fest. “Foi uma experiência positiva”, me contou Paula, 33, enquanto servia quatro tipos de cervejas diferentes e respondia aos geeks que raios era amburana. 

Aos mais curiosos, a cervejeira oferecia um golinho de cachaça envelhecida nessa madeira (que havia deixado atrás do balcão) para explicar do que se tratava. “Tradicionalmente, ela é usada nessa bebida aqui”, vi dizendo para alguns holandeses enormes, enquanto servia um copinho da aguardente. Eles cheiraram a bebida, tomaram um gole e inevitavelmente viraram os olhos, dizendo: “Wow! This is strong!!”.

 

Paula Yunes
Paula Yunes, cervejeira da Atrium Brasserie, no BXL Beer Fest, em Bruxelas (Foto: Maria Shirts)

Segundo Paula, a Atrium foi muito bem recebida pelos frequentadores do evento. “O feedback foi ótimo e é sempre bacana estar em contato direto com as pessoas, ver na hora o que acharam da nossa cerveja”, resumiu. Quando questionei o porquê dela ser uma das únicas mulheres atrás do balcão, me explicou que na Bélgica há realmente uma disparidade de gênero na produção, e que o meio é bastante masculinizado. “Muitos consumidores se dirigem somente ao Val quando querem saber alguma coisa sobre a cerveja. Antes isso me deixava inconformada, mas hoje sei lidar com esse tipo de situação”.

Na frente do balcão a situação não era tão diferente. Estimo que, dentre os frequentadores, 75% eram homens, e 25% mulheres. “Isso é bem comum nessa região”, me disse Maíra Freitas, 27, brasileira que vive na Holanda há dois anos. “Toda vez que peço uma cerveja em um bar, por exemplo, me dizem ‘nossa, que espírito esportivo!’’, conta. “Pelo que entendi, algumas pessoas aqui acham que cerveja é coisa homem”, concluiu, revirando os olhos.