Cervejaria escandinava abre fábrica própria e conquista mercado asiático

O meio cervejeiro europeu está com novos alvos: Japão, Hong Kong e Tailândia. Foi o que Linda Skogholt, 39, me contou entre alguns copos de IPA no Garage Beer, um brewpub de Barcelona.

Representante comercial internacional da dinamarquesa To Øl, Linda rebateu o meu estranhamento quando indaguei a respeito desses destinos. “São países populosos, curiosos e com poder aquisitivo. É natural que estejam comprando a nossa cerveja”, explicou.

Quando perguntei por que não exportavam para o Brasil, me respondeu na lata: “Burocracia”, mostrando a grossura imaginária da papelada com os dedos indicador e o polegar. “É tão desgastante que acaba não valendo a pena”, disse.

A Dinamarca é o novo point da cerveja artesanal na Europa. O país tem abraçado a produção depois que Mikkel Bjergsø e Kristian Keller, fundadores da Mikkeller, abriram bares em mais de 13 países do mundo -inclusive no sudeste asiático.

Obstinados, os cervejeiros da To Øl (e alunos de Mikkel) fundaram a marca em 2010, já produzem 1,5 milhão de litros por ano e irão abrir, em dezembro, sua fábrica própria em Svinninge, na Dinamarca.

 

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A 80km de Copenhague, a cidade de Svinninge será sede da fábrica da To Øl

“O propósito é sermos completamente sustentáveis. Vamos fazer um pomar para usar ingredientes locais, reutilizar a água da produção e desenvolver a nossa própria cultura de bactérias”, me contou Linda. 

Linda Skogholt
Linda Skogholt, representante internacional da cervejaria To Øl (Foto: Maria Shirts)

O terreno, o qual estão chamando carinhosamente de “To Øl City”, tem 150 mil m² e contará com a fábrica, um pomar, uma sala climatizada com barris para envelhecimento de cervejas, além de espaço para produção de outras bebidas como destilados, hidromel e sidra. 

Equidade de gênero

“Acho importante falarmos sobre essa questão aqui na Dinamarca, porque conquistamos muitas coisas em termos de equidade de gênero, mas ainda falta um empurrãozinho final”, afirmou Marian Reed, 40, gerente geral da cervejaria Dry & Bitter.

Segundo ela e Hanna Gustavsson, 40, representante da sueca Brewski, a Escandinávia tem caminhado bem em termos de gênero. As mulheres estão ocupando lugares importantes na indústria cervejeira, e elas estimam que a representatividade na fábrica (e em outras funções das cervejarias) esteja quase meio a meio -60% dos cargos seriam ocupados por homens, e 40% por mulheres.

“Ainda assim, é verdade que há muitas de nós ocupando cargos mais organizacionais, o que me parece ser um reflexo da sociedade: os homens trabalham na produção, enquanto as mulheres ‘arrumam a casa’ ”, comparou Hanna.

Nenhuma das entrevistadas relatou sofrer assédio ou outros tipos de violência em seu local de trabalho por ser mulher. Entretanto, é unânime entre elas que o problema está em uma figura específica da cadeia: o consumidor. “Chega a ser engraçado, pois há muitos deles que querem explicar a cerveja que eu vendo para mim”, conta Hanna. “Hoje, com 40 anos, já estou um pouco calejada. Mas é preciso ter paciência”, concluiu.