Racha uma Breja https://rachaumabreja.blogfolha.uol.com.br Mulheres, histórias e bastidores da cerveja artesanal Mon, 30 Dec 2019 22:19:45 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Mulheres se organizam em grupos para fomentar presença feminina no universo cervejeiro https://rachaumabreja.blogfolha.uol.com.br/2019/10/28/mulheres-se-organizam-em-grupos-para-fomentar-presenca-feminina-no-universo-cervejeiro/ https://rachaumabreja.blogfolha.uol.com.br/2019/10/28/mulheres-se-organizam-em-grupos-para-fomentar-presenca-feminina-no-universo-cervejeiro/#respond Mon, 28 Oct 2019 22:31:29 +0000 https://rachaumabreja.blogfolha.uol.com.br/files/2019/10/NYC-craft-beer-300x215.jpeg https://rachaumabreja.blogfolha.uol.com.br/?p=92 Desde que iniciei o Racha uma Breja tenho procurado conhecer mulheres que trabalham com cerveja artesanal.

Ao longo do trajeto, visitei 6 países diferentes na Europa e, agora, aportei nos Estados Unidos. Testemunhei festivais e descobri tendências interessantes. Notei que cada cultura tem uma relação específica com a cerveja, seja através de uma abordagem mais tradicional, seja por uma produção mais moderna.

Sobre o relato feminino, descobri que a presença de mulheres nesse mercado de trabalho aumenta todo dia, mas não sem percalços e olhares (reprovadores) machistas. 

Apesar do ofício ser originalmente uma atividade feita por mulheres, que conduziam a produção da cerveja assim como a do pão (então parte de suas tarefas domésticas), o trabalho foi sequestrado das suas produtoras originais, por volta do século 15, depois que governos descobriram que poderiam arrecadar impostos com isso. 

O que costumava ser uma parte da renda das viúvas, que vendiam cerveja para pagar por sua subsistência, virou proibição. Reza a lenda, ainda, que os chapéus pontudos, usados por elas como uma estratégia de marketing para se destacarem na multidão enquanto vendiam o produto na rua, foram associados à bruxaria.

Os séculos que vieram em seguida e a revolução industrial também não ajudaram. Foi só nos anos 1960 que as mulheres retornaram à produção cervejeira, em grande parte por causa do reconhecimento de sua força de trabalho e por causa do aquecimento desse mercado nos Estados Unidos.

Ainda assim, a presença feminina incomoda. “Tenho a impressão de que as cervejarias pagam ainda menos para ex-patriadas não europeias”, me disse Linda Skogholt, representante da marca dinamarquesa To Øl. A xenofobia é um plus

A reação das mulheres, entretanto, está cada vez mais produtiva. Em diversos países pelos quais eu passei, grupos estão sendo formados para fortalecer as cervejeiras e outras profissionais que já estão no mercado. E para chamar novas trabalhadoras e entusiastas, também.

Em Londres, o Crafty Beer Girls se encontra toda segunda quarta-feira do mês para discutir o mercado e trivialidades sobre a cerveja artesanal. 

Em Nova York, o grupo NYC Women in Beer usa suas redes para divulgar eventos, trabalhos e atividades voltadas para mulheres no universo cervejeiro. Quatro vezes ao ano se encontram para fazer o networking pessoalmente.

Na Dinamarca, um grupo está organizando o GLOW – Gangsta Ladies of Wort, um evento em que as mulheres que trabalham no meio artesanal servirão suas cervejas e se colocarão à disposição para tirar dúvidas sobre o mercado e a produção ao público. Se estiver por essas bandas, confira: será em Copenhagen, no dia 7/11.

No Brasil, temos algumas iniciativas tímidas voltadas para as mulheres. Em geral acontecem no mês de março, e se dedicam ao ensino da brassagem. Acompanhando os bastidores, entretanto, sinto que estamos caminhando para a construção de algo mais sólido. O público ainda irá ouvir falar sobre. 

 

]]>
0
Associação de consumidores ingleses proíbe rótulos de cerveja considerados sexistas em festival https://rachaumabreja.blogfolha.uol.com.br/2019/10/14/associacao-de-consumidores-ingleses-proibe-rotulos-de-cerveja-considerados-sexistas-em-festival/ https://rachaumabreja.blogfolha.uol.com.br/2019/10/14/associacao-de-consumidores-ingleses-proibe-rotulos-de-cerveja-considerados-sexistas-em-festival/#respond Mon, 14 Oct 2019 16:06:30 +0000 https://rachaumabreja.blogfolha.uol.com.br/files/2019/10/crafty-beer-girls-300x215.png https://rachaumabreja.blogfolha.uol.com.br/?p=79 “Agora seja sincera. O que você achou das cervejas inglesas?”. Foi uma das primeiras perguntas que Jaega Wise, cervejeira da Wild Card Brewery, me fez quando sentamos juntas no bar All Good Beers, em Londres.

Toda segunda quarta-feira do mês o bar recebe o grupo Crafty Beer Girls que, como o nome sugere, foi criado para gerar encontros entre mulheres entusiastas da cerveja artesanal na Inglaterra. 

“Olha, eu já conhecia alguns estilos ingleses clássicos que chegam no Brasil. Mas confesso que tomar uma cerveja do cask, aqui, foi uma experiência totalmente …diferente”, respondi, com honestidade.

“Sem gás, né?”, ela disse rindo. 

Casks são barris que conservam a cerveja de um modo diferente do qual estamos acostumados no Brasil. Ali, a cerveja não recebe nenhuma injeção de CO2, e sai do barril para o copo através de um sistema chamado “handpumping”. Por não ter o gás, apresentam um corpo menos carbonatado e, por isso, são chamadas de “flat”. 

Além disso, a cerveja que vai para o cask passa por uma segunda fermentação quando já está dentro dele, de modo que a sensação e o sabor também são diferentes das que levam injeção de gás. 

No All Good Beers, entretanto, as cervejas estavam mais para IPAs e Stouts americanas, aparentemente dois estilos que caíram na graça de todos os bares de cerveja artesanal europeus que frequentei até agora  (menos na Alemanha, risos).

Apesar das opções de cerveja serem previsíveis, o encontro foi diferente do que eu esperava. Imaginei que fosse encontrar um monte de mulheres ativistas lutando por um espaço mais igualitário dentro do universo da cerveja artesanal. Mas não. Elas estavam ali só para tomar uma cerveja mesmo.

Claro que o assunto “feminismo” apareceu, assim como a pauta do “como é ser uma mulher no meio cervejeiro”. Mas o encontro funciona muito mais como uma rede de contatos entre pessoas do gênero feminino (cis, trans ou não-binárias) que curtem tomar cerveja do que qualquer outra coisa.

“Acho que o feminismo tem muitas camadas, e é muito interessante ver como ele pode proporcionar atividades e reflexões. Mas há muita coisa que ainda não conquistamos. Eu sou a única mulher negra da Inglaterra que trabalha nessa indústria, por exemplo. Pelo menos das que eu conheço. Você acha que isso faz sentido?”, me perguntou Jaega. 

“Algumas coisas tem mudado, entretanto. Neste ano começamos a eliminar rótulos e nomes sexistas das cervejas e introduzir mulheres de outras idades nesse universo”, concluiu. 

Em agosto, a associação de consumidores Campaign for Real Ale (Camra) proibiu as marcas de servirem rótulos considerados discriminatórios no Great British Beer Festival, um dos maiores eventos do meio. Na edição de 2019, que ocorreu entre os dias 6 e 10/8, a organização do festival estimou receber 40 mil pessoas.

A decisão foi motivada, entre outras razões, por uma pesquisa conduzida pela organização YouGov. Segundo os dados coletados, 68% das mulheres britânicas afirmaram que não tomariam uma cerveja cujo rótulo considerassem sexista. 

“Uau”, respondi, quando Jaega me contou a respeito dos rótulos. “Que interessante. Qual será o próximo passo? Salários iguais?”, ironizei. As duas riram. Mas sem achar muita graça.

 

]]>
0