Racha uma Breja https://rachaumabreja.blogfolha.uol.com.br Mulheres, histórias e bastidores da cerveja artesanal Mon, 30 Dec 2019 22:19:45 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Espaço em Berlim promove ‘cervejaria de contêiner’ e outras iniciativas independentes https://rachaumabreja.blogfolha.uol.com.br/2019/09/30/espaco-em-berlim-promove-cervejaria-de-conteiner-e-outras-iniciativas-independentes/ https://rachaumabreja.blogfolha.uol.com.br/2019/09/30/espaco-em-berlim-promove-cervejaria-de-conteiner-e-outras-iniciativas-independentes/#respond Mon, 30 Sep 2019 14:25:24 +0000 https://rachaumabreja.blogfolha.uol.com.br/files/2019/09/holzmarkt-300x215.png https://rachaumabreja.blogfolha.uol.com.br/?p=59 Depois de uma semana conhecendo lugares que parecem cenário de filme indie dos anos 1980, estranhei quando cheguei na minha entrevista com a cervejeira Thea Kupfer no Holzmarkt, em Berlim.

O endereço que ela me mandou era no meio de uma avenida larga, sem comércio por perto, logo abaixo de um viaduto por onde passa o S-Bahn, o trem de superfície da cidade. Parecia inóspito para uma cervejaria. Mas o mapa não mente, dizem, e fui entrando em um estacionamento com várias vans estacionadas. O mau tempo não ajudou a glamourizar a situação.

Eu não estava exatamente no lugar errado, mas sim nos fundos do que deve ser o ambiente mais alternativo que já estive na vida. Mais do que um espaço, o Holzmarkt é um projeto, um ponto de encontro, um local aberto com várias atrações: um café, uma padaria, uma balada, pequenos lofts e um bar com cervejas artesanais produzidas in loco em um tipo de “microcervejaria de contêiner”, a Holzmarkt Brauerei. 

Thea Kupfer
Thea Kupfer, uma das cervejeiras da Holzmarkt Brauerei, na frente do contêiner que abriga a cervejaria (Foto: Maria Shirts)

A cervejaria, temporária, integrou o projeto durante um ano, fornecendo algumas das torneiras mais interessantes do bar. Este foi o último mês deles no local. Na semana em que estive lá, consegui experimentar algumas cervejas produzidas no contêiner: uma Pilsen bem tradicional, uma Pale Ale, uma Amber Ale e uma Berliner Weisse com limão -minha preferida.

 “Não acho que exista uma resistência da população em tomar cervejas diferentes só por causa da Lei da Pureza”, me respondeu Thea, quando perguntei se ela achava que a legislação influenciava na cultura e, consequentemente, no consumo das artesanais.  

“Acho que falta comunicação. Essa cerveja que fazemos é mais cara e o consumidor não quer pagar por algo que ele sequer conhece. E não é necessariamente por causa da qualidade. Isso, aliás, é um argumento que precisa ser desconstruído. Aqui na Alemanha nem toda cerveja artesanal é melhor do que as produzidas em maior escala. Mas precisamos explicar para a população que é um bem feito em pouca quantidade, por um produtor local que não consegue rentabilizar e distribuir o seu produto como a grande indústria”, concluiu. 

“Em Berlim, no entanto, vivemos em uma bolha. Tanto para questões de gênero como para o consumo de novidades. O pessoal entende o conceito e está muito mais familiarizado com esse tipo de cerveja do que no resto da Alemanha. Aqui em Holzmarkt mais ainda”, explicou, dado que o lugar é uma espécie de epicentro volátil de arte e cultura. 

Criado no início dos anos 2000, o espaço nasceu como um local de resistência à especulação imobiliária do rio Spree, um fenômeno que estava desenfreado nos anos que sucederam a Queda do Muro, em 1989. Desde que nasceu, o ambiente abriga projetos temporários e com poucos anos de vida. Praticamente uma aceleradora de iniciativas hipster. 

“É interessante porque atrai muita gente. Você precisa ver isso aqui no verão. Não tem onde sentar. Acho que o mercado e a administração pública deveriam entender que esse lugar fomenta a região, atrai turistas, além de ser uma iniciativa bacana para quem está começando um projeto ou um empreendimento. É um ponto de partida”, resumiu Thea. 

 

Para saber mais sobre a iniciativa, acesse: https://www.holzmarkt.com/ueber-den-holzmarkt

 

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Lei da Pureza engessa produção de novas cervejas artesanais na Alemanha https://rachaumabreja.blogfolha.uol.com.br/2019/09/23/lei-da-pureza-engessa-producao-de-novas-cervejas-artesanais-na-alemanha/ https://rachaumabreja.blogfolha.uol.com.br/2019/09/23/lei-da-pureza-engessa-producao-de-novas-cervejas-artesanais-na-alemanha/#respond Mon, 23 Sep 2019 15:13:33 +0000 https://rachaumabreja.blogfolha.uol.com.br/files/2019/09/berliner-300x215.png https://rachaumabreja.blogfolha.uol.com.br/?p=52 Eu sabia que os alemães eram pessoas sérias que “seguiam as regras do jogo”. Mas o negócio é mais certinho do que eu imaginava. Sobrou até para a cerveja.

Quem trabalha no meio cervejeiro sabe que, há séculos, os alemães se pautam pela Lei da Pureza (aqui chamada de Reinheitsgebot) para fazer uma receita. Criada em 1516, a legislação determina que a cerveja seja feita apenas com malte, água e lúpulo (a levedura entrou na conta algum tempo depois, quando finalmente se deram conta de sua função no processo). 

Como a maioria das regulamentações que envolvem bebidas, a lei foi criada para facilitar a arrecadação de impostos e proteger a sua produção. Há quem diga que, nesse caso, o projeto é também fruto de um marketing do governo, que àquela época pensava em fomentar uma identidade nacional através de um dos bens mais consumidos pela população.

Foi engraçado observar o gap cultural que surgiu no meio da minha entrevista com a Cristal Jane Peck, cervejeira da Berliner Berg, quando eu comentei que conhecia a lei, mas achava que era “lenda urbana”, que havia caído em desuso. “Aqui as leis não caem em desuso”, me respondeu. É óbvio que não. 

E a fiscalização acontece. Cristal me contou que há um órgão do governo que vira e mexe colhe amostras de cervejas em eventos, por exemplo, para testar se estão em conformidade com a Lei da Pureza (isto é, para verificar se não foram usados adjuntos como frutas, ervas ou demais ingredientes no processo). 

Microbiologista, a australiana de 36 anos mora em Berlim há seis, e é cervejeira da Berliner Berg desde 2017. Ela é responsável por toda a produção que é feita no brewpub deles -um pitoresco buteco em Neukölln (um dos bairros mais descolados da cidade), com móveis de madeira, flores do campo e pouco espaço para entrada de luz, o que dá um clima de speakeasy ao ambiente.

A cervejeira Cristal Jane Peck na fábrica da Berliner Berg, em Neukölln, Berlim (Foto: Maria Shirts)

A cervejaria fica nos fundos do bar, em um porãozinho de 15m por 5m com pé direito baixo. “Tivemos que fazer todo o equipamento sob encomenda pois, de outra forma, eles não entrariam aqui”, me contou. 

Com a ajuda de um assistente, Cristal gerencia toda a produção, que estimou ser de 1.000 litros por semana. “Como fazemos a cerveja aqui, conseguimos vender a um preço bom em comparação a outros bares”, me explicou. No bar, os valores vão de € 2,5 a € 5 por copo (de R$ 12 a R$ 23). 

O propósito da Berliner Berg é modernizar o consumo tradicional da cerveja, resgatando estilos próprios da região, como a Berliner Weisse, e propondo a inserção de outros ingredientes às receitas clássicas. 

“Estamos tentando mudar aos poucos essa cultura de que cerveja é só água, malte e lúpulo. Isso é muito antigo”, disse Cristal. “Mas e a ‘beer police?’”, perguntei, já apelidando a fiscalização. “Essas cervejas com outros ingredientes não vão para a prateleira, elas ficam aqui no bar. Até o órgão ficar sabendo, a cerveja já acabou”, me respondeu. 

Além do brewpub, a Berliner Berg conduz o resto da sua produção em uma fábrica na Bavária, no sul do país. Apesar dos alemães terem uma certa resistência com marcas mais jovens, vi vários rótulos da Berliner Berg em lojas de conveniência e em alguns supermercados. Segundo Cristal, as vendas vão bem.

 

Enquanto isso, no Brasil

Inserir ingredientes pouco usuais na cerveja não parece ser um problema no Brasil. Quem tem feito isso de uma maneira interessante é a cervejaria Japas, das sócias Maíra Kimura, Fernanda Ueno e Yumi Shimada.

A cervejaria promove um resgate à origem japonesa de suas fundadoras, de modo que muitos dos seus rótulos contêm algum ingrediente nipônico. 

Dentre alguns exemplos estão as frutas cítricas yuzu e dekopon que, por serem sazonais, são utilizadas apenas algumas vezes ao ano na sua produção. “Fizemos uma pesquisa e conseguimos achar produtores dessas frutas aqui no Brasil. Gostamos de manter uma proximidade forte com os fornecedores, e nos preocupamos com a sazonalidade dos nossos insumos. Por isso não lançamos o ano inteiro a mesma cerveja”, me contou Maíra Kimura. 

Quando questionei se havia resistência por parte do consumidor, uma vez que os ingredientes podem não ser tão usuais ao público brasileiro, Maíra me respondeu que não. “O brasileiro é muito curioso”, concluiu. 

Yumi Shimada (esq.), Maíra Kimura (centro) e Fernanda Ueno (dir.), fundadoras da Japas (Divulgação/Bruno Fujii)

Ainda para saudar a cultura japonesa, a Japas irá lançar nessa semana a sua versão do highball, uma bebida à base de whisky super comum no Japão. “Demos o nome de ‘Haiboru’ porque é como os japoneses apelidaram a bebida. É um drink simples, uma mistura de whisky com água gaseificada. Lá a galera bebe da lata mesmo, já virou febre”, disse Kimura. A bebida já existe no Brasil, mas essa é a sua primeira versão em lata. 

O lançamento será amanhã (24), no Empório Alto de Pinheiros, a partir das 19h, na R. Vupabussu, 305, Pinheiros, região oeste.

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