Racha uma Breja https://rachaumabreja.blogfolha.uol.com.br Mulheres, histórias e bastidores da cerveja artesanal Mon, 30 Dec 2019 22:19:45 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Dark lager é tendência em 2020 nos Estados Unidos https://rachaumabreja.blogfolha.uol.com.br/2019/12/30/dark-lager-e-tendencia-em-2020-nos-estados-unidos/ https://rachaumabreja.blogfolha.uol.com.br/2019/12/30/dark-lager-e-tendencia-em-2020-nos-estados-unidos/#respond Mon, 30 Dec 2019 22:18:44 +0000 https://rachaumabreja.blogfolha.uol.com.br/files/2019/12/oxbow-300x215.png https://rachaumabreja.blogfolha.uol.com.br/?p=118 O fim do ano chegou e, com ele, resolvi fazer uma retrospectiva de algumas cervejas que tomei e que, imagino, devem ditar os estilos e as tendências para o mercado cervejeiro nos Estados Unidos e no Brasil no ano de 2020. 

Dark Lagers / Rauchbier

Se tem algo que os nova-iorquinos não param de tomar são as dark e smoked lagers. Com sabor defumado e ao mesmo tempo com um corpo leve, elas têm feito sucesso entre as cervejarias da costa leste. Os mais ousados estão partindo direto para as rauchbiers -em geral ainda mais defumadas. Não sei se a moda chega ao Brasil, mas deveria. Apesar de não ser um estilo de entrada, creio que faria sucesso entre os consumidores brasileiros.

Destaques: rauchbier Stands to Reason, da Suarez Family e dark lager Constant Disregard, colaboração da Threes Brewing com a Oxbow. No Brasil: rauchbier Fire It Up Monk!, da Hop Lab.

Pilsner

Os consumidores ainda têm preconceito com as pilsners. Como já comentado aqui, as pessoas associam o estilo a cerveja de má qualidade. O jogo virou, no entanto, no meio cervejeiro -é a preferida de quem trabalha com artesanal. Me parece, entretanto, que o pessoal ainda está apegado ao uso de lúpulo, de modo que a maioria tem lançado o que chamam de contemporary pilsners.

Destaques: Pivo Pils, da Firestone Walker. No Brasil: Oat Pils, da Cervejaria Avós.

DDH IPA

Me parece impossível tomar uma simples IPA nos dias atuais. Se tem algo que vi (e bebi) por aí desde que comecei o Racha uma Breja foram as Double Dry Hopped IPAs. A “modinha” teria começado com a cervejaria Other Half, um sucesso entre os beer geeks de Nova York. Mais hazy, mais lupulada e com mais corpo, o estilo está sendo repercutido por várias cervejarias americanas. 

Destaques: DDH Green Power, da Other Half, Interstellar Jetsetter, uma colaboração da Japas com KCBC e Casa Bruja. No Brasil: Hoptilla, da Dogma.

Desert Sours

A fim de tornar as já conhecidas fruit sours mais aveludadas e encorpadas, muitas cervejarias têm adicionado lactose às suas receitas. A ideia é equilibrar a sensação de acidez, as vezes considerada agressiva por alguns consumidores. Lembram um pouco os smoothies que nunca fizeram verdadeiro sucesso no Brasil. 

Destaques: An Enduring Thing, da Hudson Valley. No Brasil: 2x Milk Shake Pink Lemonade, da Dádiva

Imperial Stout

Na moda há algum tempo, as imperial stouts continuam sendo as queridinhas quando se trata do estilo. A tendência é continuar na onda “pastry”: doces e alcoolicas. O Brasil já aderiu.

Destaques: Scusa, Ma Parlo Solo Un Po’ Di Macaroon Coconut, da Evil Twin. No Brasil: Abyssal, da 5 elementos

 

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Brooklyn Brewery lança lager em lata no Brasil e anuncia outros dois rótulos para 2020 https://rachaumabreja.blogfolha.uol.com.br/2019/12/17/brooklyn-brewery-lanca-lager-em-lata-no-brasil-e-anuncia-outros-dois-rotulos-para-2020/ https://rachaumabreja.blogfolha.uol.com.br/2019/12/17/brooklyn-brewery-lanca-lager-em-lata-no-brasil-e-anuncia-outros-dois-rotulos-para-2020/#respond Tue, 17 Dec 2019 19:07:49 +0000 https://rachaumabreja.blogfolha.uol.com.br/files/2019/12/brooklyn-300x215.png https://rachaumabreja.blogfolha.uol.com.br/?p=114 Se tem uma coisa que descobri com o Racha uma Breja é que os consumidores em geral têm dois preconceitos meio que enraizados quando falamos em cerveja: lager e lata. 

Todas as cervejeiras com quem conversei até hoje colocam a culpa na indústria. Faz sentido. Afinal, a nossa memória de cerveja barata e de qualidade duvidosa costuma ser …a de uma lager em lata.

Qual não foi minha surpresa, então, quando descobri que a nova-iorquina Brooklyn Brewery, hoje com operação também no Brasil, ia lançar justamente a sua lager em lata no país (a cerveja já era comercializada em long neck e em chope). 

No Brasil desde 2018, a cervejaria abriu operação no Paraná junto com a Maniacs para conseguir produzir alguns de seus rótulos in loco. 

A iniciativa parece ser mais rentável do que exportar para o mundo todo. E visa diminuir a pegada de carbono da marca que, ao produzir no local, não precisa exportar lotes e lotes de cerveja pelo mundo.

Encarei o lançamento como um bom sinal. Se vingar, pode ser um indício de que os consumidores estão se abrindo para outros estilos. O preço, no entanto, talvez seja um impedimento: deve custar aproximadamente R$ 12,90 nos mercados e lojas especializadas.

Ainda que a notícia seja interessante, os hábitos de consumo continuam mirando nas IPAs: “Hoje os brasileiros consomem mais a Brooklyn IPA do que a Lager. Esse é um fenômeno que só acontece aqui”, me disse Iron Mendes, CEO da marca no Brasil. 

(O causo me fez lembrar de quando a cervejaria Avós, que só trabalha com lagers, lançou a “Não tem IPA?” em irônica homenagem aos barbudos bebedores de cerveja conhecidos como ‘Hop-Heads’).

Independentemente do estilo, a lata também é um fator que inspira (desnecessária) desconfiança no consumidor. Reza a lenda que o preconceito vem de longa data. 

Porque os produtores artesanais, em geral pequenos, não tinham equipamentos ou condições de envasar as suas cervejas em latas, criou-se uma ideia de que as cervejas servidas em garrafas têm mais qualidade.

Mas a verdade é que a lata, em comparação com a garrafa, é o recipiente que melhor preserva o frescor da cerveja, “além de ser mais prática para o transporte”, lembra Mendes. 

Se mesmo assim o consumidor não estiver nem aí para uma lager honesta em lata, a Brooklyn irá lançar no primeiro trimestre de 2020 dois outros rótulos clássicos da marca: a Sorachi Ale e a Defender IPA. Mas por enquanto só em chope.

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‘Compre local está cada vez mais forte nos EUA’, diz cervejeira da Stone Brewing https://rachaumabreja.blogfolha.uol.com.br/2019/12/10/compre-local-esta-cada-vez-mais-forte-nos-eua-diz-cervejeira-da-stone-brewing/ https://rachaumabreja.blogfolha.uol.com.br/2019/12/10/compre-local-esta-cada-vez-mais-forte-nos-eua-diz-cervejeira-da-stone-brewing/#respond Tue, 10 Dec 2019 19:55:32 +0000 https://rachaumabreja.blogfolha.uol.com.br/files/2019/12/IMG_6545-300x215.jpeg https://rachaumabreja.blogfolha.uol.com.br/?p=109 A história nos mostra que alemães e americanos divergem em muita coisa. Parece que cerveja é uma delas.

Em entrevista ao Racha uma Breja a cervejeira da californiana Stone Brewing, Laura Ulrich, me explicou por que o bar megalomaníaco que construíram nos arredores de Berlim não vingou, qual a tendência do mercado para 2020 e em que pé está a organização que preside, a Pink Boots Society (PBS).

Quando você começou na cerveja, Laura, tudo isso aqui era mato. Me conta como foi a sua evolução nesse mercado, por favor.

Comecei a trabalhar com cerveja em 2002, quando ainda morava em Fort Collins, no Colorado. Eu trabalhava como bartender e vi na Odell Brewing uma oportunidade de emprego que eu achei que seria bacana. Mas não tinha essa intenção de fazer carreira no mundo cervejeiro, propriamente. Quando fui pra Odell, vi a vaga mais como mais um emprego que ia pagar as contas, um ofício.

E quando isso mudou?

Quando eu vim para a Stone, em 2004. Eu queria muito mudar de cidade e a oferta de emprego me permitiria ir para a Califórnia. À época eu ainda trabalhava no setor de envase. Em 2006 me foi ofertado um emprego como cervejeira. Como a Stone é uma cervejaria grande, comecei a ir conhecendo mais pessoas. E percebendo que, de fato, não havia tantas mulheres nesse mercado. E aí, em 2007, eu conheci a Teri [Fahrendorft, a outra fundadora do Pink Boots Society]. 

Foi aí que vocês fundaram a Pink Boots Society?

Pois é. A Teri estava fazendo uma road trip pelos Estados Unidos e notou que havia pouquíssimas mulheres na indústria. Nessa época ainda não havia redes sociais, de modo que não estávamos conectadas como hoje. Foi quando fizemos uma lista para tentar projetar quantas mulheres éramos no mercado. E então pensamos: e se juntássemos todas elas em um grupo e começássemos uma organização? Hoje temos 2.500 membros na PBS e, desde 2013, oferecemos bolsas de estudos para mulheres do mundo todo que querem ingressar no meio cervejeiro. Já crescemos muito: concedemos 6 bolsas em 2013 e, neste ano, foram 48.

Mas você continua na Stone?

Sim, eu nunca saí da Stone. O PBS é meu projeto paralelo.

E o que mudou de lá pra cá no mercado? Você vê alguma tendência para 2020?

Eu percebo que o movimento do “compre local” está cada vez mais forte nos Estados Unidos. O que faz sentido do ponto de vista do cervejeiro, porque significa que você não precisa gastar com distribuição e pode manter uma logística mais simples na sua cervejaria. Do ponto de vista do consumidor também ajuda -é sempre uma boa ter opções mais perto de casa.

Você acha que esse foi um dos motivos para a Stone não ter dado certo em Berlim? [esse ano a cervejaria fechou um bar enorme que havia 3 anos de vida na capital alemã]

Acho que passamos por uma espécie de conflito cultural e de consumo na Alemanha. Vou dar um exemplo: os alemães não tomam cerveja em lata. Eles a veem como uma cerveja de qualidade inferior -apesar de nós termos ótimas cervejas em lata. Além disso, as gerações mais antigas não estão acostumadas a tomar os tipos de cervejas que fazemos. Os mais jovens gostam, mas ao mesmo tempo não têm poder de compra. Outro fator era a distância: por se tratar de um terreno grande, o bar ficava um pouco afastado da cidade, o que pode ter prejudicado a frequência.

Stone
O CEO Greg Koch anuncia a abertura da Stone Brewing em Berlim (Foto: Reprodução)

Você acha que essa diferença do consumo tem a ver com a lei da pureza, e com o fato deles serem mais ‘ortodoxos’ com relação à cerveja?

Pode ser. De fato, eles estão mais acostumados com cervejas tradicionais, o que pode ser o motivo pelo qual as gerações mais antigas não consomem as artesanais.

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Atrás do balcão https://rachaumabreja.blogfolha.uol.com.br/2019/11/19/atras-do-balcao/ https://rachaumabreja.blogfolha.uol.com.br/2019/11/19/atras-do-balcao/#respond Tue, 19 Nov 2019 16:38:53 +0000 https://rachaumabreja.blogfolha.uol.com.br/files/2019/11/the-well-300x215.png https://rachaumabreja.blogfolha.uol.com.br/?p=105 Depois de 3 meses conhecendo o mercado cervejeiro na Europa, resolvi ancorar em Nova York para fazer o mesmo nos Estados Unidos. E, nesse meio tempo, fui fazer um frila de bartender em um bar de cervejas artesanais aqui no Brooklyn. 

Antes que o leitor ache que isso tem a ver com alguma pretensão de fazer jornalismo gonzo, vou cortar o romance de cara e ser honesta: na real eu preciso complementar a renda. 

O dólar está aloprado, eu ganho em reais, e, bem, é verdade que também gosto de trabalhar como bartender. 

Afinal, o meu trabalho já é conversar com pessoas que estão no meio cervejeiro. Entender, a partir da visão de quem está nesse universo, quais são as tendências, como funciona o mercado, do que elas mais gostam.

Por que não fazer o mesmo com os consumidores? É até mais fácil porque, em geral, eles estão bêbados. E bêbado não mente.

O frila que eu peguei, entretanto, era tão intenso que não consegui nem beber água. Quem dirá conversar com a turma. 

Fui chamada para complementar o staff do bar de cervejas artesanais The Well, que fica em Bushwick, no Brooklyn. Eles precisavam de gente para trabalhar em um evento grande. A ocasião era especial: o aniversário de 5 anos do bar. 

Cheguei na manhã do sábado (16) para ajudar no “abre”. A casa levantaria as portas às 10h. Às 8h50, quando estava na esquina, vi uma turma aglomerada perto da entrada e pensei “carai, o after do vizinho tá bom, hein”. Era uma fila de pessoas esperando para o The Well abrir.

Don’t panic. Entrei no buteco e falei pro gerente: “Ian, tem gente acampada aqui fora esperando o bar abrir”. Ele respondeu “Eu sei. Estão aí desde às 6h30”. Ah tá. 

Se isso é coisa de americano eu não sei. Já ouvi relatos de outras filas igualmente ou até mais impressionantes, mas em festivais mais “bojudos”. No Mikkeller Beer Celebration, que acontece na Dinamarca, ouvi dizer que as pessoas chegam às 5h da manhã para garantir edições exclusivas de cervejas feitas para o evento. 

Mas é um dos maiores festivais da Europa, promovido pela Mikkeller que é uma cervejaria super hype. Não é o aniversário do buteco da esquina (sem desmerecer).

Daí pra frente só desgraça. A festa tinha 800 pessoas confirmadas e, diferente do Brasil, aqui, se você confirma, você vai. Estávamos em cinco bartenders para servir 45 opções de chope.  Como eu disse, não deu tempo de tomar água.

“Se alguém inventar de pedir um drink em vez de cerveja eu vou dar um soco na cara do cliente”, riu de nervoso a Nat, minha colega que também era frila, como eu. Ainda não sei se ela estava brincando.

O tom do relato é de pânico mas, no geral, conseguimos atender a todos sem muitos percalços. Havia uma série de cervejas comemorativas feitas para a ocasião e, no fim, acabou que a maioria pediu isso.

O que foi bom porque, obviamente, nenhum de nós conhecia todas as 45 cervejas plugadas. Fora que trabalhar atendendo gente que sabe o que quer é muito mais fácil. Aprendi, entretanto, que se você tem que responder a respeito de uma cerveja que não conhece para uma pessoa indecisa que está atravancando uma fila de outros duzentos pedidos, é só ser assertivo.

“Entre essas duas aqui da Foam, a Pavement ou a Caribou. Qual você prefere?”.

“Definitivamente a Caribou”, respondi em três segundos olhando no olho do sujeito.

“Me vê essa, então”. 

Há que se ter presença de espírito. 

Não sei se porque as pessoas não entraram em muitas conversas, ou se porque aqui o negócio está melhor do que no Brasil, o outro país que já trabalhei com serviço, não me senti subjugada enquanto atendia os clientes. 

(Para quem não sabe, trabalhar com cerveja artesanal no Brasil, como mulher, é passar por teste de conhecimento toda hora. Aconteceu em quase todos os eventos em que servi a cerveja do meu coletivo. “Que fermento vocês usaram? E que lúpulo? Fizeram dry hopping?”. Não é interesse genuíno, infelizmente. É provocação mesmo). 

Eu só passei por um momento inconveniente, na festa, quando um sujeito achou por bem tirar com a minha cara. Foi quando servi duas IPAs diferentes, indicando qual era qual, e me voltei de costas para cobrar as respectivas. Quando fui dar o troco, ele perguntou:  

“Desculpa, qual é qual, mesmo?”. 

Por causa do caos, eu já não lembrava, mas arrisquei: “Eu acho que essa é a Triple IPA, porque pela cor você nota que ela é mais juicy“. 

“Nossa, você usou o termo correto”, respondeu impressionado. 

“Eu to aqui atrás do balcão por algum motivo, né?” sorri passivo-agressivamente. Ele ficou sem graça. 

 

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Poder público e associações se mobilizam para fomentar cerveja artesanal no país https://rachaumabreja.blogfolha.uol.com.br/2019/11/11/poder-publico-e-associacoes-se-mobilizam-para-fomentar-cerveja-artesanal-no-pais/ https://rachaumabreja.blogfolha.uol.com.br/2019/11/11/poder-publico-e-associacoes-se-mobilizam-para-fomentar-cerveja-artesanal-no-pais/#respond Mon, 11 Nov 2019 21:28:46 +0000 https://rachaumabreja.blogfolha.uol.com.br/files/2019/11/cerveja-artesanal-300x215.png https://rachaumabreja.blogfolha.uol.com.br/?p=100 No dia 30/10 foi lançada a Câmara da Cerveja, órgão ligado ao Ministério da Agricultura (Mapa) para debater a produção e o mercado de uma das bebidas mais vendidas no país. 

A organização vem em boa hora, visto o crescimento do número de cervejarias artesanais no Brasil. Hoje, contamos com mais de 1.000 delas.

A competência abrange não só as micros, mas todos os polos da indústria. Fazem parte a Abracerva (Associação Brasileira da Cerveja Artesanal),  a Abrabe (Associação Brasileira de Bebidas), a CervBrasil (Associação Brasileira da Indústria da Cerveja), e outras representantes da cadeia produtiva.

“Essa iniciativa é super importante, é uma porta que tem que ser aberta. Temos que mostrar que as artesanais geram emprego, turismo e conhecimento. É preciso indagar: que tipo de investimento o governo quer fazer? Quer ajudar o empresário pequeno, que tem muita dificuldade, ou favorecer grandes indústrias e grupos?”, questionou Luiza Tolosa, fundadora da cervejaria Dádiva. 

“Nesse momento de recessão econômica, acho que as cervejarias artesanais mais estruturadas e profissionais vão conseguir sobreviver. Quem tem um produto condizente vai segurar as pontas até uma melhoria do cenário. Nosso sucesso está muito ligado à conjuntura do país”, previu. 

Segundo o Ministério da Agricultura, o objetivo da Câmara é estruturar a cadeia e elevar a produção, qualificando as pequenas cervejarias. Também prevêem o aumento da exportação da cerveja brasileira, assim como sua presença em eventos no exterior. 

“O arranjo nos permitirá mais fluidez nos processos, o que eu vejo como um ganho. Conseguiremos deliberar pontos com mais rapidez”, me disse Eduardo Marcusso, membro da Secretaria de Política Agrícola do ministério. 

Quando perguntei sobre a questão tributária e como racionalizar a arrecadação para os pequenos produtores, que muitas vezes são sufocados pela quantidade de impostos, Marcusso respondeu que o órgão poderá levar encaminhamentos às áreas competentes e começar uma comunicação com o Ministério da Economia, por exemplo, para rever a questão tributária. “Mas isso tem que ser muito conversado”, alertou.

A pauta é vista com urgência por Carlos Lapolli, presidente da Abracerva e eleito o primeiro presidente da Câmara da Cerveja, cargo que vai exercer por um ano.

“Precisamos melhorar o regulatório fiscal. Não é só caro para o pequeno produtor, é complexo. Cada estado tem uma legislação diferente de ICMS. Dentro dessa tributação há uma diferença sobre produto pasteurizado ou não. E você tem que pagar o tributo antecipado. Está dentro do nosso planejamento tentar mudar isso também”, disse. 

 

 

Beba local

Para incentivar o consumo e a produção de artesanais no município de São Paulo, o vereador José Police Neto (PSD) criou o Projeto de Lei (PL) 522/2018 de Incentivo às Microcervejarias Artesanais. 

O programa tem como objetivo estimular a produção da cerveja no município, incentivando a formação de profissionais e promovendo o comércio local. 

Ainda em tramitação na Câmara dos Vereadores, o PL busca negociar isenção de IPTU para microcervejarias. Segundo publicação do Diário Oficial do dia 7/11, duas audiências públicas sobre o PL ainda devem ocorrer. Ainda não há previsão de quando elas acontecerão. 

“Queremos que a cerveja artesanal faça sentido para a cidade. Para mim é fundamental mostrar que estamos cruzando benefícios entre os estabelecimentos comerciais e os produtores. Se trata de uma questão focal: onde posso gerar atividade em locais ociosos?”, me explicou Police Neto.

“Além de tudo é um negócio que gera turismo, desenvolvimento local e empregos. Queremos que o produto faça sentido para a cidade”, concluiu.

 

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Cervejaria americana New Belgium chega ao Brasil com três rótulos até o fim do ano https://rachaumabreja.blogfolha.uol.com.br/2019/11/04/cervejaria-americana-new-belgium-chega-ao-brasil-com-tres-rotulos-ate-o-fim-do-ano/ https://rachaumabreja.blogfolha.uol.com.br/2019/11/04/cervejaria-americana-new-belgium-chega-ao-brasil-com-tres-rotulos-ate-o-fim-do-ano/#respond Mon, 04 Nov 2019 18:57:02 +0000 https://rachaumabreja.blogfolha.uol.com.br/files/2019/11/fat-tire-300x215.jpeg https://rachaumabreja.blogfolha.uol.com.br/?p=95 A quarta maior cervejaria artesanal dos Estados Unidos, a New Belgium, lançará na próxima quinta-feira (7) dois rótulos no Empório Alto de Pinheiros (EAP), em São Paulo: a Fat Tire (uma Amber Ale) e a Voodoo Ranger (uma IPA). 

Quem for ao lançamento conseguirá comprar as latas de 355 ml com mais de 50% de desconto (em vez de R$ 30, pagará R$ 13).

Casey Kjolhede, representante da New Belgium que estará no Brasil para o lançamento, me contou que a expectativa para a entrada da cerveja no país é grande. 

“Eu estimo que será bem quista pelos brasileiros por causa da procura que tivemos nos últimos anos. Além disso, a Fat Tire tem muito valor, enquanto marca. Acho que terá uma grande aceitação”, explicou. 

Na empresa há 18 anos, Casey me contou que, apesar da New Belgium ser uma grande e reconhecida cervejaria nos Estados Unidos, tem sido cada vez mais difícil competir no mercado das artesanais: “Antigamente havia muito menos concorrência. É incrível ver como o mercado evoluiu”, contou. 

Do Colorado, a ideia da cervejaria surgiu depois que Kim Gordon e Jeff Lebesch (à época casados) voltaram de uma viagem que fizeram de bicicleta (!!!) pela Bélgica, em 1988. 

Em 1991, instalaram o seu primeiro equipamento na garagem de casa, em Fort Collins, para tentar reproduzir as cervejas belgas que haviam experimentado durante a viagem. Em junho do mesmo ano estavam vendendo a Fat Tire no Colorado Brewers Festival.

De lá até aqui a cervejaria cresceu horrores e, hoje, produz mais de 15 rótulos fixos e 900 mil barris por ano. 

“Acompanhamos o crescimento do mercado e tivemos que inovar, lançar novas cervejas para as gerações que estão começando a beber legalmente. O que notamos é que os millennials estão consumindo menos álcool e fumando mais maconha”, resumiu Casey. 

“Para essa geração, percebemos que faz mais sentido lançarmos cervejas menos alcoólicas e com poucas calorias”, disse. 

Com duas instalações nos EUA (Fort Collins, no Colorado e em Asheville, Carolina do Norte), a marca exporta para alguns países da Europa (como Suécia e Irlanda), Japão, Coreia do Sul e, agora, para o Brasil.

Segundo Teles Hortencio, gerente de marketing da divisão de cervejas da Interfood (importadora responsável pela operação), o Brasil receberá a Fat Tire e a Voodoo Ranger neste mês, a Citradelic (uma Tangerine IPA) a partir de dezembro e duas Sours até o fim de janeiro: a Wood Cellar Reserve Single Foeder Felix, e a Wood Cellar Reserve Single Foeder Oscar. 

Os primeiros rótulos serão vendidos em lojas especializadas em São Paulo e, a partir de janeiro, devem ser distribuídos para o resto do país. 

 

Lançamento dos rótulos Fat Tire e Voodoo Ranger, da cervejaria New Belgium Brewing
Empório Alto de Pinheiros, 7/11, quinta-feira, às 19h
Rua Vupabussu, 305 – Pinheiros – São Paulo

 

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Mulheres se organizam em grupos para fomentar presença feminina no universo cervejeiro https://rachaumabreja.blogfolha.uol.com.br/2019/10/28/mulheres-se-organizam-em-grupos-para-fomentar-presenca-feminina-no-universo-cervejeiro/ https://rachaumabreja.blogfolha.uol.com.br/2019/10/28/mulheres-se-organizam-em-grupos-para-fomentar-presenca-feminina-no-universo-cervejeiro/#respond Mon, 28 Oct 2019 22:31:29 +0000 https://rachaumabreja.blogfolha.uol.com.br/files/2019/10/NYC-craft-beer-300x215.jpeg https://rachaumabreja.blogfolha.uol.com.br/?p=92 Desde que iniciei o Racha uma Breja tenho procurado conhecer mulheres que trabalham com cerveja artesanal.

Ao longo do trajeto, visitei 6 países diferentes na Europa e, agora, aportei nos Estados Unidos. Testemunhei festivais e descobri tendências interessantes. Notei que cada cultura tem uma relação específica com a cerveja, seja através de uma abordagem mais tradicional, seja por uma produção mais moderna.

Sobre o relato feminino, descobri que a presença de mulheres nesse mercado de trabalho aumenta todo dia, mas não sem percalços e olhares (reprovadores) machistas. 

Apesar do ofício ser originalmente uma atividade feita por mulheres, que conduziam a produção da cerveja assim como a do pão (então parte de suas tarefas domésticas), o trabalho foi sequestrado das suas produtoras originais, por volta do século 15, depois que governos descobriram que poderiam arrecadar impostos com isso. 

O que costumava ser uma parte da renda das viúvas, que vendiam cerveja para pagar por sua subsistência, virou proibição. Reza a lenda, ainda, que os chapéus pontudos, usados por elas como uma estratégia de marketing para se destacarem na multidão enquanto vendiam o produto na rua, foram associados à bruxaria.

Os séculos que vieram em seguida e a revolução industrial também não ajudaram. Foi só nos anos 1960 que as mulheres retornaram à produção cervejeira, em grande parte por causa do reconhecimento de sua força de trabalho e por causa do aquecimento desse mercado nos Estados Unidos.

Ainda assim, a presença feminina incomoda. “Tenho a impressão de que as cervejarias pagam ainda menos para ex-patriadas não europeias”, me disse Linda Skogholt, representante da marca dinamarquesa To Øl. A xenofobia é um plus

A reação das mulheres, entretanto, está cada vez mais produtiva. Em diversos países pelos quais eu passei, grupos estão sendo formados para fortalecer as cervejeiras e outras profissionais que já estão no mercado. E para chamar novas trabalhadoras e entusiastas, também.

Em Londres, o Crafty Beer Girls se encontra toda segunda quarta-feira do mês para discutir o mercado e trivialidades sobre a cerveja artesanal. 

Em Nova York, o grupo NYC Women in Beer usa suas redes para divulgar eventos, trabalhos e atividades voltadas para mulheres no universo cervejeiro. Quatro vezes ao ano se encontram para fazer o networking pessoalmente.

Na Dinamarca, um grupo está organizando o GLOW – Gangsta Ladies of Wort, um evento em que as mulheres que trabalham no meio artesanal servirão suas cervejas e se colocarão à disposição para tirar dúvidas sobre o mercado e a produção ao público. Se estiver por essas bandas, confira: será em Copenhagen, no dia 7/11.

No Brasil, temos algumas iniciativas tímidas voltadas para as mulheres. Em geral acontecem no mês de março, e se dedicam ao ensino da brassagem. Acompanhando os bastidores, entretanto, sinto que estamos caminhando para a construção de algo mais sólido. O público ainda irá ouvir falar sobre. 

 

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Cerveja com pouco álcool é tendência de mercado nos EUA https://rachaumabreja.blogfolha.uol.com.br/2019/10/21/cerveja-com-pouco-alcool-e-tendencia-de-mercado-nos-eua/ https://rachaumabreja.blogfolha.uol.com.br/2019/10/21/cerveja-com-pouco-alcool-e-tendencia-de-mercado-nos-eua/#respond Mon, 21 Oct 2019 17:23:20 +0000 https://rachaumabreja.blogfolha.uol.com.br/files/2019/10/evil-twin-300x215.png https://rachaumabreja.blogfolha.uol.com.br/?p=86 Quem diria que a próxima tendência do mercado cervejeiro americano seria cerveja …sem álcool? Ou com pouquíssimo álcool. “Parece mentira, mas acho que essa veio para ficar”, me explicou Ann Reilly, diretora da associação de cervejarias New York City Brewers Guild.

Quando questionei o motivo da “moda”, Ann me respondeu que as pessoas estão mais preocupadas com a saúde e que querem controlar o consumo de álcool em geral. 

Além disso, a sociedade americana é muito “carrocêntrica”, de modo que a indústria tem focado nos consumidores que bebem, mas ainda assim precisam dirigir. “É um jeito também de ser mais inclusivo e tentar atingir todos os públicos”, concluiu. 

No Brasil tivemos um lançamento semelhante, há pouco tempo atrás, da Cervejaria Dádiva, a Dádiva sem álcool. 

É uma proposta interessante para os abstêmios ou para pessoas que estão tentando parar de beber (que, até pouco tempo atrás, só contavam com opções péssimas no mercado, também conhecidas como “a última punição do bêbado”, segundo meu pai).

O movimento é curioso para quem acompanha o mercado. Os americanos, até onde conhecemos, são os reis da cervejas extremas, seja na quantidade de álcool ou em amargor. 

“Mas talvez Nova York não seja uma referência para o resto do país. Nós vivemos em uma espécie de bolha”, disse Ann, quando questionei se o movimento era nacional. 

“Acho que esse é inclusive o motivo da cerveja artesanal estar indo tão bem aqui. Nova-iorquinos são aficionados por novidades, principalmente no campo da gastronomia”, me explicou. “Para você ter ideia, vamos contar com 500 cervejarias artesanais no estado até o fim do ano”, contou. Para fins de comparação, o Brasil inteiro tem aproximadamente 1.000.

“E as pessoas pagam?”, perguntei.

“Não nos importamos em pagar um pouco mais por coisas que consideramos boas”, emendou.  

Ann Reilly
Ann Reilly, diretora do NYC Brewers Guild, em entrevista ao Racha uma Breja (Foto: Maria Shirts)

Ainda assim, algumas marcas e bares se preocupam com acessibilidade. Notei muitos lugares com happy hour a valores bem baixos, com promoções do tipo duas cervejas artesanais por US$ 6 (R$ 24).

Falando em acessibilidade, o mercado também está reagindo positivamente à inclusão de mulheres no meio cervejeiro. “É preciso reiterar que estamos falando de Nova York, uma cidade progressista que não representa o país inteiro. Eu já ouvi histórias horríveis. Mas aqui as mulheres são tratadas com respeito”, disse. 

Vice-presidente do Pink Boot Society daqui, Ann também organiza o NYC Women in Beer, uma reunião semanal que procura fomentar encontros entre mulheres do meio artesanal. Como em Londres, o encontro gera networking entre quem trabalha ou quer trabalhar na área.

“Aqui as mulheres representam uma grande parcela do mercado de trabalho e de consumidoras de cerveja artesanal. Não dá mais para sermos sexistas. As marcas sabem disso. E elas querem vender, afinal de contas”, resumiu Ann, talvez explicando muito mais sobre a sociedade americana do que ela pretendia.

 

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Associação de consumidores ingleses proíbe rótulos de cerveja considerados sexistas em festival https://rachaumabreja.blogfolha.uol.com.br/2019/10/14/associacao-de-consumidores-ingleses-proibe-rotulos-de-cerveja-considerados-sexistas-em-festival/ https://rachaumabreja.blogfolha.uol.com.br/2019/10/14/associacao-de-consumidores-ingleses-proibe-rotulos-de-cerveja-considerados-sexistas-em-festival/#respond Mon, 14 Oct 2019 16:06:30 +0000 https://rachaumabreja.blogfolha.uol.com.br/files/2019/10/crafty-beer-girls-300x215.png https://rachaumabreja.blogfolha.uol.com.br/?p=79 “Agora seja sincera. O que você achou das cervejas inglesas?”. Foi uma das primeiras perguntas que Jaega Wise, cervejeira da Wild Card Brewery, me fez quando sentamos juntas no bar All Good Beers, em Londres.

Toda segunda quarta-feira do mês o bar recebe o grupo Crafty Beer Girls que, como o nome sugere, foi criado para gerar encontros entre mulheres entusiastas da cerveja artesanal na Inglaterra. 

“Olha, eu já conhecia alguns estilos ingleses clássicos que chegam no Brasil. Mas confesso que tomar uma cerveja do cask, aqui, foi uma experiência totalmente …diferente”, respondi, com honestidade.

“Sem gás, né?”, ela disse rindo. 

Casks são barris que conservam a cerveja de um modo diferente do qual estamos acostumados no Brasil. Ali, a cerveja não recebe nenhuma injeção de CO2, e sai do barril para o copo através de um sistema chamado “handpumping”. Por não ter o gás, apresentam um corpo menos carbonatado e, por isso, são chamadas de “flat”. 

Além disso, a cerveja que vai para o cask passa por uma segunda fermentação quando já está dentro dele, de modo que a sensação e o sabor também são diferentes das que levam injeção de gás. 

No All Good Beers, entretanto, as cervejas estavam mais para IPAs e Stouts americanas, aparentemente dois estilos que caíram na graça de todos os bares de cerveja artesanal europeus que frequentei até agora  (menos na Alemanha, risos).

Apesar das opções de cerveja serem previsíveis, o encontro foi diferente do que eu esperava. Imaginei que fosse encontrar um monte de mulheres ativistas lutando por um espaço mais igualitário dentro do universo da cerveja artesanal. Mas não. Elas estavam ali só para tomar uma cerveja mesmo.

Claro que o assunto “feminismo” apareceu, assim como a pauta do “como é ser uma mulher no meio cervejeiro”. Mas o encontro funciona muito mais como uma rede de contatos entre pessoas do gênero feminino (cis, trans ou não-binárias) que curtem tomar cerveja do que qualquer outra coisa.

“Acho que o feminismo tem muitas camadas, e é muito interessante ver como ele pode proporcionar atividades e reflexões. Mas há muita coisa que ainda não conquistamos. Eu sou a única mulher negra da Inglaterra que trabalha nessa indústria, por exemplo. Pelo menos das que eu conheço. Você acha que isso faz sentido?”, me perguntou Jaega. 

“Algumas coisas tem mudado, entretanto. Neste ano começamos a eliminar rótulos e nomes sexistas das cervejas e introduzir mulheres de outras idades nesse universo”, concluiu. 

Em agosto, a associação de consumidores Campaign for Real Ale (Camra) proibiu as marcas de servirem rótulos considerados discriminatórios no Great British Beer Festival, um dos maiores eventos do meio. Na edição de 2019, que ocorreu entre os dias 6 e 10/8, a organização do festival estimou receber 40 mil pessoas.

A decisão foi motivada, entre outras razões, por uma pesquisa conduzida pela organização YouGov. Segundo os dados coletados, 68% das mulheres britânicas afirmaram que não tomariam uma cerveja cujo rótulo considerassem sexista. 

“Uau”, respondi, quando Jaega me contou a respeito dos rótulos. “Que interessante. Qual será o próximo passo? Salários iguais?”, ironizei. As duas riram. Mas sem achar muita graça.

 

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Mercado cervejeiro cresce na Escandinávia, e suecos tentam formar associação https://rachaumabreja.blogfolha.uol.com.br/2019/10/07/mercado-cervejeiro-cresce-na-escandinavia-e-suecos-tentam-formar-associacao/ https://rachaumabreja.blogfolha.uol.com.br/2019/10/07/mercado-cervejeiro-cresce-na-escandinavia-e-suecos-tentam-formar-associacao/#respond Mon, 07 Oct 2019 19:28:07 +0000 https://rachaumabreja.blogfolha.uol.com.br/files/2019/10/amager-300x215.png https://rachaumabreja.blogfolha.uol.com.br/?p=68 Venho percebendo, ao longo da minha viagem, que as cervejas mais consumidas em cada país diz muito sobre a cultura local. Os alemães, por exemplo, que são pessoas sérias, fechadas, talvez um pouco conservadoras nos seus hábitos, não poderiam tomar outra coisa que não cervejas baseadas na Lei da Pureza. São restritos, diretos, papo reto.

Ou: quer coisa mais americana do que uma IPA super lupulada? É um estilo que chama atenção, um pouco como seu povo. É a terra do exagero. Quanto mais Dry Imperial Double, melhor. O Brasil, o espelho dos Estados Unidos (segundo alguns sociólogos), segue a linha. Mas também sejamos justos: há muito somebody love nas nossas sours com frutas regionais.  

Na última semana, discutia justamente o padrão de consumo do brasileiro com Mariana Schneider, 34, cervejeira da Amager Bryghus, quando ela me disse sem cerimônias: “Para mim, um dos grandes problemas da cerveja no Brasil é o preço. Sei que é caro produzir, que há muitos impostos e uma logística cara de distribuição. Mas tenho a impressão de que há um quesito elitista, também, na cena artesanal. As pessoas cobram caro porque não é para todo mundo”, analisou. 

Na Escandinávia desde 2014, a brasileira veio de Florianópolis e começou sua carreira na sueca Brewski. Em 2017, mudou-se para a Dinamarca para trabalhar na Amager. “Percebo que o mercado aqui é muito novo, mas que está em expansão. Exportamos muito do que produzimos, o que é interessante porque os rótulos chegam em muitos lugares. O ponto negativo é que a cerveja sofre com a viagem”, compara. 

Mariana
Mariana Schneider e seu cachorro, Kilo, na fábrica da Amager Bryghus, em Kastrup, na Dinamarca (Foto: Maria Shirts)

O contrário também tem ocorrido. Para economizar no traslado e, consequentemente, na pegada de carbono, algumas cervejarias americanas têm tentado se estabelecer na Europa. 

“Os americanos precisam entender que os europeus são mais minimalistas. Não adianta vir aqui e abrir uma fábrica e um bar gigantes, com um monte de funcionários em um terreno enorme e achar que está ‘fazendo barulho'”, exemplificou Irina Carlén, 32, vice-presidente da Associação de Cervejeiros Caseiros da Suécia. 

Violinista, mãe de dois filhos e estudante de pedagogia, Irina me buscou na estação central de Malmö, no sul do país, para fazermos um tour pela cidade. Bastou meia hora de trem para notar a mudança de comportamento entre a Dinamarca e a Suécia. Muito mais rígidos, os suecos têm um sistema chamado Systembolaget, o único lugar do país em que são permitidas as vendas de bebidas com mais de 3,5% de teor alcoólico.

Quando comentei com Mariana sobre as lojas, ela lembrou que a rede funciona como um monopólio do Estado com horários de funcionamento restritivos. “Se queres fazer um churrasco no domingo, esquece. Eles fecham no sábado às 14h e só reabrem na segunda-feira”, disse, como alguém que já passou por isso. 

Systembolaget
Fachada de uma das lojas do Systembolaget, na Suécia (Divulgação)

“Nesse momento estamos tentando nos organizar como um grupo de cervejeiros independentes justamente para dialogar com o Estado sobre a venda e o consumo dessas cervejas artesanais” me contou Irina. Para fomentar a discussão, a cervejeira está ajudando a organizar o evento “Great Swedish Festival Beer“, que acontecerá no dia 26 de outubro, em Malmö. 

Um dos painéis contará com a presença de Charlie Papazian, antigo presidente da Brewers Association, nos Estados Unidos. Um dos nomes mais reconhecidos no mercado, Papazian liderou o movimento de associação de cervejeiros americanos ainda em 1979, consolidando uma cultura que antes era difusa e pouco organizada. Ele também é autor de The Complete Joy of Homebrewing, livro cultuado pelos cervejeiros caseiros e com números expressivos de vendas -900 mil cópias. 

Para alimentar a discussão sobre associações e fomentar esse tipo de organização na prática, Irina também faz parte de um grupo chamado “Minus 1”. “É uma espécie de incubadora de cervejarias pequenas”, me explicou. Eles mantêm uma pequena cozinha de brassagem no subsolo de um hotel, onde abastecem algumas torneiras de seu bar, o Bishops Arms.

“Não conseguimos gerar nenhum lucro. Tudo que vendemos no pub reinvestimos no projeto. Mas, olhando pelo lado positivo, o hotel não nos cobra aluguel e conseguimos apresentar todas essas cervejarias para o público, inclusive a Secret Sisters, que é a cervejaria composta por mulheres da qual eu faço parte”, me explicou. 

“É tipo um brewpub em grupo, então?”, perguntei. “Pode-se dizer que sim. A vantagem é que conseguimos ter bastante braço para ajudar na produção e, como somos em 11 cervejarias, sempre tem alguém brassando. É um modelo de negócio bem coletivo”, concluiu. 

 

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